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Repertório Cultural

A importância para quem quer atuar na área de Comunicação

A publicidade está em todos os lugares, em diversas culturas. De fato, uma vez que a vemos em programas de TV que assistimos cotidianamente, ou até nas festas populares que anualmente acontecem, como o carnaval e festas juninas. Para as marcas, é muito importante a existência da publicidade, visto que é uma das formas de se chegar ao público-alvo, fazendo com que o lucro da empresa ou investidor aumente. As mídias assumiram uma notável importância justamente pela facilidade que a comunicação de massa oferece.

Muitas dúvidas surgem em relação à importância de um repertório cultural e conhecimento dos tipos de arte. O que é? O que não é? Em que momento se aplica? Por que é tão importante? A arte se modifica todos os dias. Afinal, tudo é arte. E se antes existia a distinção ou questionamentos sobre o que deveria ou não ser considerado como arte, com o passar do tempo, isso mudou.

Algo que pode comprovar essa mudança é o fato de a publicidade ter se apropriado da cultura urbana para vender produtos e serviços, quando se utiliza da ideologia de lutas de classes no capitalismo, por exemplo, para dominar o público desejado, mostrando um falso interesse pela causa ou questão, quando na verdade esse interesse é somente focado na estratégia de atrair mais clientes.

John D.H. Downing, um estudioso de comunicação, diz em seu livro (Mídias Radicais – Rebeldia nas Comunicações e Movimentos Sociais) que “as mídias compreendem um complexo intricado de interesse, um conflito diferente entre as forças que os constituem”. Downing relata também que esses conflitos existentes são permanentes e caracterizados como o principal elemento das lutas de classe daqueles que o utilizaram com sabedoria.

Em grande parte das vezes, a mídia independente realiza um papel muito importante, pois é justamente ela que dá ênfase à conteúdos de grupos minoritários. Aqui no Brasil, temos os veículos de comunicação “The Intercept” e a “Mídia Ninja” que atuam nessa área. Contudo, essa função não se aplica como regra e pode, em alguns casos, revelar uma identidade negativa e pejorativa, na qual é nítida a permanência da desvalorização desses mesmos grupos minoritários.

Como exemplo, podemos mencionar a Chimamanda Ngozi Adichie, uma escritora nigeriana, que confirma tais afirmações quando menciona em suas palestras o fato de ter crescido com referências culturais vindas da Europa e ter demorado a se dar conta de que pessoas como ela também poderiam existir na literatura e na cultura.

É possível classificar mídias como elementos que tornam possível a participação das tecnologias da informação e da comunicação. A utilização da tecnologia está diretamente ligada à interesses que se estabelecem entre classes sociais, contradizendo o desafio de transformá-las em elemento estruturante das inteligências.

Já as mídias independentes, popularmente conhecidas como mídias radicais, são mídias não convencionais. Tem como principal intenção a tentativa de romper regras, o desejo ou a necessidade de ser livre a ponto de expressar suas ideias. Ela passa uma visão mais abrangente sobre diversos temas e, por isso, muitas vezes é vista como uma quebra de silêncio. Portanto, mídias independentes são modos de expressão e comunicação alternativos.

Stuart Hall (1932 — 2014), teórico cultural e sociólogo britânico-jamaicano, aponta em uma das suas obras: “O que denominamos “nossas identidades” poderia provavelmente ser melhor conceituado como as sedimentações através do tempo daquelas diferentes identificações ou posições que adotamos e procuramos “viver”, como se viessem de dentro, mas que, sem dúvida, são ocasionadas por um conjunto especial de circunstâncias, sentimentos, histórias e experiências únicas e peculiarmente nossas, como sujeitos individuais. Nossas identidades são, em resumo, formadas culturalmente.”.

Em suma, grande parte do que cada pessoa se torna deriva do contato sociocultural que teve, que influenciará diretamente em todos os passos que ela dará ao longo de sua vida. Todos os dias, estigmas são criados e impostos pelos grupos dominantes para moldar padrões sociais, afetando diretamente a população mais pobre e carente, contribuindo para a sua invisibilidade social e cultural.

A televisão, o cinema e a publicidade, desde o seu surgimento, ditam modelos de comportamento e beleza para definir o “ser ideal”, excluindo e marginalizando os grupos sociais que se distanciam do padrão. Por mais que essa infâmia caminhe a cada dia para ser eliminada, ainda nos encontramos nitidamente longe do ideal. 

Por outro lado, atualmente é possível encontrar mídias que se preocupam em minimizar os vazios de informação e contribuir para a desconstrução de estereótipos. Nessa luta, uma aliada fundamental foi A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, que atua principalmente nas periferias da Grande São Paulo, que nasceu com o esforço coletivo de cerca de 20 ‘muralistas’ (como são conhecidos) e hoje mais de 100 deles já passaram pelo blog.

É inegável a importância de ser desprovido de preconceitos e estar apto a ver e entender o mundo de todas as suas formas, tendo consciência que o profissional das áreas de comunicação trabalhará com muitos públicos e um nunca será igual ao outro. Será imprescindível zelar sempre por um atendimento respeitoso e de qualidade.

E diante desse fato, vemos a necessidade de um repertório cultural, que é composto pelo conhecimento dos diversos tipos de cultura existentes na sociedade. Na área de comunicação, além de ser de extrema importância que os profissionais o tenham, é tão importante quanto que saibam lidar bem com o repertório cultural das outras pessoas.

Afinal, o repertório cultural tem como essência estar em harmonia com a mídia independente. Um claro modelo dessa situação são os patrocínios: as empresas patrocinadoras dos eventos devem estar abertas a todo e qualquer tipo de cliente, se quiserem obter sucesso em seu negócio, pois o mais importante é levar a propaganda do seu produto sem se preocupar com o tipo de cultura e estar sempre aberto para a verdade.

Quebrar padrões de "isso pode" e "isso não pode" virou mais que uma obrigação. A partir do momento que pessoas e empresas entendem a liberdade e diversidade, é possível atingir públicos de todos os gostos e culturas. O uso inteligente e revolucionário das tecnologias da informação e da comunicação, podem se tornar imparcial a própria prática dos movimentos, ajudando a classe a que representa a defender seus interesses e atingir seu objetivo na história.

O avanço da tecnologia nos dá a possibilidade de entrar em contato com diferentes culturas, por isso esse é um momento importante para trabalharmos nosso repertório cultural. Isso não significa somente conhecer mais coisas, mas ter empatia e sensibilidade para conhecer a fundo o outro. Conhecer a cultura do mundo permite conhecer o mundo, e é um grandioso ato de cidadania.

Através disso, vemos que é fundamental que crianças tenham acesso a todas as formas de arte, para que desde cedo comecem a desenvolver o seu próprio repertório cultural e melhorem seu processo de criatividade e inovação.

É importante entender o que é a cultura e como ela está presente em nosso cotidiano. Ver o mundo sem filtros, conhecer o desconhecido, ver os outros e a importância de outras culturas com clareza, ajuda não só a conseguir representar a sua personalidade como também o tornará além de um grande profissional, um grande ser-humano.

A arte é fundamental na formação humana e o caminho para nos desconstruirmos positivamente, além de experimentarmos diferentes vivências culturais e compreendermos a importância de valorizar identidades culturais diversas, dessa maneira é possível que o repertório cultural passe a ser essencial no âmbito de observar a beleza de culturas e comportamentos humanos que fogem dos padrões de normalidades ditados pelas mídias, porque ver o outro da forma como ele se expressa culturalmente é uma das maneiras de tornar o mundo um lugar em que todos são valorizados.

 

Escrito por Bruna de Oliveira Cerdeira e Gabriela Silva Ramos em 31/5/2020

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